Saudades...
Leva
este ramo, Pepita,
De saudades portuguesas;
È flor nossa, é tão bonita
Não na há noutras devesas.
Seu
perfume nã seduz,
Não tem variado matiz,
Vive à sombra, foge à luz,
As glórias d’amor não diz ;
Mas
na modesta beleza
Da sua melanconia
È tão suave a tristezza,
Inspira tal simpatia!…
E
tem um dote esta flor
Que de outra igual se não diz:
Não perde viço ou frescor
Quando a tiram da raiz.
Antes
mais e mais floresce
Com tudo o que as outras mata ;
Até às vezes mais cresce
Na terra que é mais ingrata.
Só tem um cruel senão,
Que te não devo esconder:
Plantada no coração,
Toda outra flor faz morrer.
E,
se o quebra e despedaça
Com as raizes mofinas,
Mais ela tem brillo e graça,
È como a flor das ruinas.
Não,
Pepita, não ta dou…
Fiz mal em dar-te essa
flor,
Que eu sei o que me custou
Tratá-la com tanto amor.
Almeida Garret