O passarinho viúvo
Era uma vez um passarinho viúvo. Sua fêmea tinha
morrido numa tarde de Inverno. Numa daquelas tardes de Inverno, em que caem as folhas e os
troncos das àrvores ficam sózinhos. E o céu cinzento, e tudo muito frio! Tão frio que
param os corações. E sua fêmea morreu. Morreu sobre um tronco ao qual havia caído a
última folha. Quem sabe se naquele tronco faria ninho na próxima Primavera?!
Caiu no chão num novelito de pena, e tudo pareceu mais frio. Mais cinzento. O ar menos
transparente e estava transparente! Chegou o passarino macho ao tronco onde há pouco
descansava a fêmea. Trazia um erva no bico. Uma erva tenra de luz. Como uma flor.
- Onde estás? Onde estás?
Agora um vôo planado rente à poeira e às formigas do chão.
- Onde estás? Onde estás?
A pequena erva, quando fez a primeira pergunta, caiu mesmo sobre o novelito de penas.
Estva ali o novelito morto de frio. O passarinho viúvo sentiu mais frio também.
Apeteceu-lhe morrer para ali. Mas elevou-se no ar. E cantou... Como se escrevesse com o
bico riscos de tinta roxa no ar frio. Riscos tristes. E o vento ouviu. E começou a
bailar. E juntar as folhas caídas num bailado quase maluco sobre o novelito de penas. E o
passarinho viúvo cantou ainda mais. Agora os riscos do som seu bico, tomaram as
cores todas do arco-íris. Já não eram roxas apenas: Penas. E, por fim, calou-se. E o
silêncio foram riscos de Paz. Eram PAZ.
Agora o passarinho viúvo canta de novo. Canta no dia porque a alegria, a coragem é o
dever de toda a gente. Desde os homens aos pássaros. Canta!! Os homens escutam-no e
dizem: - Que pássaro feliz!! E trabalham com alegria maior. Sofrem menos. E o passarinho
viúvo continua a cantar. Vai buscando ervinhas novas que traz no bico. Poisa em troncos
cheios de folhas novas. E, no chão, já não há o montinho de folhas. Na terra húmida
da Primavera, nasce uma flor simples - uma flor. ABERTA.
Autor para mim desconhecido